segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Vida de Patativa do Assaré

PATATIVA DO ASSARÉ

    Em 5 de março de 1909 nasce na serra de Santana, no município de Assaré no ceará um grande poeta brasileiro . Antônio Gonçalves da Silva, dito Patativa do Assaré.
    Foi o segundo filho do modesto casal de agricultores Pedro Gonçalves da Silva e Maria Pereira da Silva. Aos 4 anos perdeu a vista direita, no período da dentição (1913), em conseqüência de uma moléstia vulgarmente conhecida por Dor-d'olhos. Aos oito anos, ficou órfão de pai e teve que trabalhar ao lado de seu irmão mais velho, para sustentar os mais novos.
 Aos doze anos, freqüentou durante quatro meses sua primeira e única escola, aprendeu a ler e escrever e se tornou apaixonado pela poesia, descobriu a literatura por meio de folhetos de cordel e de repentistas(quase como um autodidata),  sem interromper o
trabalho de agricultor . De treze para quatorze anos começou a fazer seus primeiros versinhos que serviam de graça para os vizinhos e conhecidos, pois o sentido de tais versos eram brincadeiras de noite de São João, testamentos do Judas, gozação aos preguiçosos etc.
 
   Com 16 anos de idade, comprou uma viola, e muito feliz passou a escrever e cantar repentes e se apresentar em pequenas festas da cidade.
Ganhou o apelido de Patativa, uma alusão ao pássaro de lindo canto, quando tinha vinte anos de idade. Nesta época, começou a viajar por algumas cidades nordestinas  e se apresentou como violeiro. Cantou também diversas vezes na rádio Araripe. Aos 20 anos de idade viajou para o Pará em companhia de um parente José Alexandre Montoril, que lá morava, onde passou cinco meses fazendo grande sucesso como cantador.  

                                                   
   De volta ao Ceará, Antônio Gonçalves da Silva regressou à Serra de Santana, onde continuou na mesma vida de pobre agricultor e cantador.Casou-se com uma parenta, D. Belinha, cujo consórcio nasceram nove filhos. Publicou Inspiração Nordestina, em 1956, Cantos de Patativa, em 1966. Em 1970, Figueiredo Filho publicou seus poemas comentados Patativa do Assaré.
 Patativa do Assaré era unanimidade no papel de poeta mais popular do Brasil. Para chegar onde chegou, tinha uma receita prosaica: dizia que:" para ser poeta não era preciso ser professor. 'Basta, no mês de maio, recolher um poema em cada flor brotada nas árvores do seu sertão", declamava.
  Apresentou-se com o cantor Fagner no Festival de Verão do Guarujá (1981), período em que gravou seu segundo LP A Terra é Naturá, lançado também pela CBS. A política também foi tema da obra e de sua vida. Durante o regime militar, ele condenava os militares e chegou a ser perseguido. Participou das diretas já em 1984 e publicou o poema Inleição Direta que dizia :





 Bom camponês e operaro
A vida tá de amargá
O nosso estado precaro
Não há quem possa aguentá
Neste espaço dos vinte ano
Que a gente entrou pelo cano
A confusão tá compreta
Mode a coisa miorá
Nós vamo bradá e gritá
Pela inleição direta
(Patativa do Assaré)

Seu vigor poético serviu vassala a denunciar injustiças sociais, propagando sempre a consciência e a perseverança do povo nordestino que sobrevive e dá sinais de bravura ao resistir ao condições climáticas e políticas desfavoráveis. A esse fato se refere a estrofe da música Cabra da Peste:

"Eu sou de uma terra que o povo padece
Mas não esmorece e procura vencer.
Da terra querida, que a linda cabocla
De riso na boca zomba no sofrê
Não nego meu sangue, não nego meu nome.
Olho para a fome , pergunto: que há ?
Eu sou brasileiro, filho do Nordeste,
Sou cabra da Peste, sou do Ceará."
(Patativa do Assaré)

Embora tivesse facilidade para fazer versos desde menino, Patativa do  Assaré,  nunca quis ganhar a vida em cima do seu dom de poeta. Mesmo tendo feito shows pelo Sul do país, quando foi mostrado ao grande público por Fagner em finais da década de 70,e sempre foi um camponês humilde.

Patativa se foi com 93 anos de idade,após falência múltipla dos órgãos em conseqüência de uma pneumonia dupla, além de uma infecção na vesícula e de problemas renais.Todavia permanece vivo através de suas obras.

                          POESIAS









POESIAS - CORDEL

O poeta da roça


Sou fio das mata, cantí´ da mão grossa,
Trabáio na roça, de inverno e de estio.
A minha chupana é tapada de barro,
Só fumo cigarro de páia de mí­o.

Sou poeta das brenha, não faço o papé
De argum menestré, ou errante cantí´
Que veve vagando, com sua viola,
Cantando, pachola, í  percura de amí´.

Não tenho sabença, pois nunca estudei,
Apenas eu sei o meu nome assiná.
Meu pai, coitadinho! vivia sem cobre,
E o fio do pobre não pode estudá.

Meu verso rastêro, singelo e sem graça,
Não entra na praça, no rico salão,
Meu verso só entra no campo e na roça
Nas pobre paioça, da serra ao sertão.

Só canto o buliço da vida apertada,
Da lida pesada, das roça e dos eito.
E í s vez, recordando a feliz mocidade,
Canto uma sodade que mora em meu peito.

Eu canto o cabí´co com suas caçada,
Nas noite assombrada que tudo apavora,
Por dentro da mata, com tanta corage
Topando as visage chamada caipora.

Eu canto o vaquêro vestido de cí´ro,
Brigando com o tí´ro no mato fechado,
Que pega na ponta do brabo novio,
Ganhando lugio do dono do gado.

Eu canto o mendigo de sujo farrapo,
Coberto de trapo e mochila na mão,
Que chora pedindo o socorro dos home,
E tomba de fome, sem casa e sem pão.

E assim, sem cobiça dos cofre luzente,
Eu vivo contente e feliz com a sorte,
Morando no campo, sem vê a cidade,
Cantando as verdade das coisa do Norte.

O VÔO DO PATATIVA

O sertão está de luto,
Sem sinfonia a aurora,
Pois a ave que cantava
O povo, a fauna e a flora
Sem sequer nos dar adeus
Alçou vôo e foi embora.

Calejado pelos anos,
Com noventa e três de idade
Mas com plena lucidez,
Muita sensibilidade.
Sua ausência nos cobriu
Com o véu frio da saudade.

Deu voz a uma lçegião
De rurícolas sem clareza;
Até falando em desgraça,
Seu canto tinha beleza
Porque recebeu as aulas
Do Mestre da natureza.

Sua poesia jorrou
Na viola e no repente,
Cantou saudade e tristeza
Miséria, seca e enchente.
Sua obra o transformou
Num símbolo da nossa gente.

Puro e simples como a flor,
Um gênio da raça humana,
Viveu como lavrador,
Morando numa choupana
Plantando e colhendo versos
Lá na terra de Santana.

Mesmo sem ter estudado
Não se fez ignorante,
Nutria um amor telúrico
Por seu torrão escaldante
Onde fez Triste Partida
A saga do retirante.

Sempre lutou para o povo
Não ser massa de manobra,
Teve humildade em excesso
Teve inspiração de sobra.
Não há quem saiba estimar
O valor de sua obra.

Mais que um poeta-maior
Um vate fenomenal,
Poesia genuína,
Improviso natural
Fazia das rimas arma
Na defesa social.

Cantou nossa gente simples
Do sertão com maestria;
Defendendo as injustiças,
Protestando a covardia,
Sua arma era o verso,
Munição, a poesia.

Guardo viva a sua imagem
Fazendo versos com esmero,
Glosando com muita prática,
Rimando sem exagero
Que da poética matuta
Só ele tinha o tempero.

Sua mensagem profética
Encheu o sertão de amor,
Sua genialidade
Trouxe a lume o seu valor,
O sertão chora a saudade
Do seu eterno cantor.

Voa, Patativa, voa
Para o céu de Jeová.
Vou ficando por aqui
Poetizando o Ceará.
Você no céu, eu na terra,
Cante lá que eu canto cá.

 

 

Cante lá, que eu canto cá


  Poeta, cantí´ de rua,
Que na cidade nasceu,
Cante a cidade que é sua,
Que eu canto o sertão que é meu.

Se aí­ você teve estudo,
Aqui, Deus me ensinou tudo,
Sem de livro precisá
Por faví´, não mêxa aqui,
Que eu também não mexo aí­,
Cante lá, que eu canto cá.

Você teve inducação,
Aprendeu munta ciença,
Mas das coisa do sertão
Não tem boa esperiença.
Nunca fez uma paioça,
Nunca trabaiou na roça,
Não pode conhecê bem,
Pois nesta penosa vida,
Só quem provou da comida
Sabe o gosto que ela tem.

Pra gente cantá o sertão,
Precisa nele morá,
Tê armoço de fejão
E a janta de mucunzá,
Vivê pobre, sem dinhêro,
Socado dentro do mato,
De apragata currelepe,
Pisando inriba do estrepe,
Brocando a unha-de-gato.

Você é muito ditoso,
Sabe lê, sabe escrevê,
Pois vá cantando o seu gozo,
Que eu canto meu padecê.
Inquanto a felicidade
Você canta na cidade,
Cá no sertão eu infrento
A fome, a dí´ e a misera.
Pra sê poeta divera,
Precisa tê sofrimento.

Sua rima, inda que seja
Bordada de prata e de í´ro,
Para a gente sertaneja
í‰ perdido este tesí´ro.
Com o seu verso bem feito,
Não canta o sertão dereito,
Porque você não conhece
Nossa vida aperreada.
E a dí´ só é bem cantada,
Cantada por quem padece.

Só canta o sertão dereito,
Com tudo quanto ele tem,
Quem sempre correu estreito,
Sem proteção de ninguém,
Coberto de precisão
Suportando a privação
Com paciença de Jó,
Puxando o cabo da inxada,
Na quebrada e na chapada,
Moiadinho de suó.

Amigo, não tenha quêxa,
Veja que eu tenho razão
Em lhe dizê que não mêxa
Nas coisa do meu sertão.
Pois, se não sabe o colega
De quá manêra se pega
Num ferro pra trabaiá,
Por faví´, não mêxa aqui,
Que eu também não mêxo aí­,
Cante lá que eu canto cá.

Repare que a minha vida
í‰ deferente da sua.
A sua rima pulida
Nasceu no salão da rua.
Já eu sou bem deferente,
Meu verso é como a simente
Que nasce inriba do chão;
Não tenho estudo nem arte,
A minha rima faz parte
Das obra da criação.

Mas porém, eu não invejo
O grande tesí´ro seu,
Os livro do seu colejo,
Onde você aprendeu.
Pra gente aqui sê poeta
E fazê rima compreta,
Não precisa professí´;
Basta vê no mês de maio,
Um poema em cada gaio
E um verso em cada fulí´.

Seu verso é uma mistura,
í‰ um tá sarapaté,
Que quem tem pí´ca leitura
Lê, mais não sabe o que é.
Tem tanta coisa incantada,
Tanta deusa, tanta fada,
Tanto mistéro e condão
E í´tros negoço impossive.
Eu canto as coisa visive
Do meu querido sertão.

Canto as fulí´ e os abróio
Com todas coisa daqui:
Pra toda parte que eu óio
Vejo um verso se bulí­.
Se as vêz andando no vale
Atrás de curá meus male
Quero repará pra serra
Assim que eu óio pra cima,
Vejo um divule de rima
Caindo inriba da terra.

Mas tudo é rima rastêra
De fruita de jatobá,
De fí´ia de gamelêra
E fulí´ de trapiá,
De canto de passarinho
E da poêra do caminho,
Quando a ventania vem,
Pois você já tá ciente:
Nossa vida é deferente
E nosso verso também.

Repare que deferença
Iziste na vida nossa:
Inquanto eu tí´ na sentença,
Trabaiando em minha roça,
Você lá no seu descanso,
Fuma o seu cigarro mando,
Bem perfumado e sadio;
Já eu, aqui tive a sorte
De fumá cigarro forte
Feito de paia de mio.

Você, vaidoso e facêro,
Toda vez que qué fumá,
Tira do bí´rso um isquêro
Do mais bonito metá.
Eu que não posso com isso,
Puxo por meu artifiço
Arranjado por aqui,
Feito de chifre de gado,
Cheio de argodão queimado,
Boa pedra e bom fuzí­.

Sua vida é divirtida
E a minha é grande pená.
Só numa parte de vida
Nóis dois samo bem iguá:
í‰ no dereito sagrado,
Por Jesus abençoado
Pra consolá nosso pranto,
Conheço e não me confundo
Da coisa mió do mundo
Nóis goza do mesmo tanto.

Eu não posso lhe invejá
Nem você invejá eu,
O que Deus lhe deu por lá,
Aqui Deus também me deu.
Pois minha boa muié,
Me estima com munta fé,
Me abraça, beja e qué bem
E ninguém pode negá
Que das coisa naturá
Tem ela o que a sua tem.

Aqui findo esta verdade
Toda cheia de razão:
Fique na sua cidade
Que eu fico no meu sertão.
Já lhe mostrei um ispeio,
Já lhe dei grande conseio
Que você deve tomá.
Por faví´, não mexa aqui,
Que eu também não mêxo aí­,
Cante lá que eu canto cá.

Autor: Patativa do Assaré



CARICATURAS








             FONTES:   BRASIL ESCOLA;
   PORTAL SÃO FRANCISCO;
PARAZINET .


VÍDEOS
100 anos de Patativa do Assaré


AVE POESIA


http://www.youtube.com/watch?v=3NYID1977vs&feature=related







 
                                      NOSSOS VIDEOS EM                  HOMENAGEM A PATATATIVA

 O POETA DA ROÇA



CABOCLO ROCEIRO

8 comentários:

  1. Os alunos de Grão Mogol estão de parabéns com o trabalho realizado, continuem assim.

    ResponderExcluir
  2. Milena, vc e suas colegas realizaram um ótimo trabalho, pois, a cultura brasileira necessita de pessoas como vcs pra continuar viva na nossa memória. Agora é dar continuidade e postar mais sobre a vida de outros poetas brasileiros importantes. Meus parabéns!!!!

    ResponderExcluir
  3. muuuito bom!
    o conteúdo do blog é mto interessante, e o visual tá show.

    ResponderExcluir
  4. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  5. Muito show o Blog!!!
    Além de falar do saudoso Patativa expondo suas artes e falando de sua vida, mostrando a arte do sertão, os alunos demonstraram órtima criatividade ao produzirem videos cantando a obra do grande Patativa do Assaré!
    Parabéns, espero mais posts sobre outros grandes "artistas da terra"
    obs.: As vozes são dignas de programas como o qual é o seu talento, só que é bom dar um feijãozinho pro "vaqueiro de amarelo" no primeiro vídeo!!!hauahuahauhua...tá levantando a enxada numa fraqueza "coitchado"!!!

    ResponderExcluir
  6. Parabéns ao grupo de estudo10, pelo interessantíssimo blog.A criatividade na construção dos videos sobre a vida do Patativa de Assaré ficou rica em detalhes e mostra que ainda existem jovens que podem e devem acreditar e resgatar a cultura brasileira.

    ResponderExcluir
  7. Parabéns ao grupo pelo excelente trabalho feito no blog. Um trabalho criativo, super interessante falando desse homem que foi a voz dos sertanejos. Ao grupo que deixou bem claro a idéia que Patativa nos deixou de ter o prazer de casar-se com a poesia, formando um belo casal dia e noite. Novamente deixo meus Parabéns ao grupo pelo trabalho.

    ResponderExcluir
  8. Aos alunos do 9º ano e a professora Edmara,
    parabéns pelo belo trabalho realizado. Além do valor poético, vocês aprenderam sobre a vida e a obra do artista Patativa do Assaré. Por meio dos recursos tecnológicos podem mostrar ao mundo o que pesquisaram e o que aprenderam.
    Com criatividade e bom humor apresentam fatos e curiosidades do homenageado valorizando a cultura brasileira.
    Grande abraço!
    Professora Vera – Juiz de Fora

    ResponderExcluir